Tempestades solares colocam milhares de satélites Starlink em risco e agravam problema do lixo espacial
A intensa atividade solar registrada nos últimos meses está acelerando a queda de milhares de satélites em órbita baixa, especialmente os da constelação Starlink, operada pela SpaceX, empresa de Elon Musk. Segundo especialistas, o fenômeno já levou a um número recorde de reentradas atmosféricas e acende o alerta sobre o aumento do lixo espacial ao redor da Terra.
Erupções solares e seus efeitos
A cada 11 anos, o Sol entra em um ciclo de pico de atividade conhecido como máximo solar, caracterizado por um aumento expressivo nas erupções solares e nas tempestades geomagnéticas. Durante esse período, o campo magnético da Terra interage com as ejeções de partículas vindas do Sol, provocando distúrbios na atmosfera superior.
Um dos impactos diretos dessa atividade intensa é o aquecimento e expansão da atmosfera terrestre, o que gera mais resistência ao movimento dos satélites em órbita baixa — justamente onde operam milhares dos dispositivos da Starlink.
“Durante tempestades geomagnéticas, observamos que os satélites reentram muito mais rapidamente do que o previsto”, afirmou o pesquisador Denny Oliveira, do Centro de Voos Espaciais Goddard da NASA.
Satélites Starlink: em queda acelerada
A constelação Starlink já ultrapassa 7 mil satélites lançados, e a meta da empresa é atingir até 30 mil unidades em operação. Porém, entre 2020 e 2024, mais de 500 satélites já foram rastreados retornando à atmosfera.
Em eventos recentes, como uma tempestade solar registrada em maio de 2024 — a mais intensa em duas décadas —, 37 satélites reentraram na Terra apenas cinco dias após serem lançados, devido à baixa altitude e ao aumento do arrasto atmosférico. Esse ritmo preocupa cientistas.
Apesar de serem projetados para se desintegrarem totalmente ao reentrar, os satélites podem deixar resíduos em sua trajetória, agravando o problema do lixo espacial.
Impactos positivos e preocupações crescentes
Para alguns especialistas, como o professor Sean Elvidge, da Universidade de Birmingham, a queda acelerada de satélites inativos pode ser benéfica, pois reduz o risco de colisões em órbita. Por outro lado, isso limita a operação de satélites em órbitas muito baixas, abaixo dos 400 km, tornando esses projetos menos viáveis a longo prazo.
Outro fator preocupante é o impacto ambiental. Pesquisas apontam que a queima dos satélites gera partículas como óxido de alumínio, que podem interferir no clima e na composição atmosférica da Terra — embora os efeitos ainda estejam sendo estudados.
Além disso, o brilho e a radiação desses objetos também afetam a observação astronômica, como mostrou um estudo do Instituto Holandês de Radioastronomia (ASTRON).
Um futuro cada vez mais lotado no espaço
A combinação entre o crescimento explosivo de megaconstelações de satélites e a intensa atividade solar nos próximos anos poderá tornar comum a queda diária de satélites. Isso exige novos protocolos internacionais sobre o uso responsável do espaço orbital e o controle do lixo espacial.
Com as previsões indicando mais tempestades solares até 2026, o debate sobre sustentabilidade espacial se intensifica — e Elon Musk e outras empresas do setor terão que lidar com os desafios de operar em um ambiente cada vez mais imprevisível e congestionado.